Governo fixará meta de inflação para 2015

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Autor(es): Gabriela Valente

A segunda quinzena de junho será crucial para que o governo cumpra a difícil tarefa de ancorar as expectativas do mercado financeiro e dos empresários em relação à economia brasileira. A partir da próxima semana, o Ministério da Fazenda e o Banco Central precisam divulgar algumas das projeções mais importantes para 2013 e para os próximos dois anos. Segundo economistas ouvidos pelo GLOBO, quase todas mostrarão piora em relação ao início do ano.

O BC publicará seu relatório trimestral de inflação, no qual deve rever para baixo a taxa de crescimento e para cima o comportamento do IPCA. Já o Conselho Monetário Nacional (CMN) – composto por BC e ministérios da Fazenda e do Planejamento – terá de definir a meta de inflação para 2015, além de confirmar se mantém a de 2014 em 4,5% (com dois pontos percentuais de margem para baixo ou para cima).

Isso ocorrerá num mês em que a inflação em 12 meses vai estourar o teto da meta do ano, de 6,5%. Mesmo assim, o presidente do BC, Alexandre Tombini, participará hoje de audiência no Senado preparado para dizer que não há leniência com a inflação.

O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, afirma que, graças a uma queda nos preços de alimentos, o IPCA de junho virá menor que o de maio, quando o índice registrou alta de 0,37%. Mesmo assim, o resultado acumulado no ano deve ficar em 6,79%:

– Por mais otimista que se queira ser, a inflação vai estourar o teto da meta em junho.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a inflação começa a preocupar:

– Isso pode até fazer com que o BC estenda o ciclo de alta de juros, pois a inflação já começou a afetar a popularidade do governo.

De acordo com o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, a equipe econômica não deverá fazer mudanças nas metas de inflação de 2014 nem de 2015. Segundo ele, não há qualquer espaço para reduzir uma meta que já está difícil de cumprir, e isso não traria maior credibilidade, pois os economistas não veriam como factível um índice menor.

– Acho que atravessamos o pior momento para as expectativas, mas, como diz um amigo meu, o fundo do poço tem porão – atesta Perfeito.

Porém, segundo os técnicos do governo, junho não será um mês perdido, pois a arrecadação divulgada neste período (relativa a maio) mostrará recuperação. Mesmo assim, o governo não poderá continuar a trabalhar com projeção de crescimento oficial de 3,5%, nem com a meta cheia de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, já deixou claro que a meta fiscal em 2013 será de 2,3% do PIB.