Rombo recorde enterram meta fiscal e cumprimento de superavit primário
Arte/CB/D.A Press |
A fase de más notícias econômicas parece não ter fim. Mesmo com o país em recessão e as perspectivas frustrantes para a recuperação econômica, o governo não se intimidou. Apostou na arrecadação recorde e em receitas extraordinárias para manter a gastança, numa tentativa de reanimar o combalido crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado foi desastroso: as contas públicas se fragilizaram, registrando, em agosto, o pior desempenho para o mês em 12 anos, segundo o Banco Central. Em paralelo, a dívida bruta continuou a trajetória de alta. Passou de 59,5% do PIB para 60,1%, puxada pelos juros.
O governo tem como missão arrecadar o suficiente para saldar parte dos juros da dívida pública, fazendo o chamado superavit primário. Em agosto, além de não conseguir poupar para cumprir esse esforço, o resultado foi um rombo de R$ 14,5 bilhões. Esse desempenho ficou abaixo do esperado até porque agosto é considerado bom para as contas públicas. Nos últimos 12 anos, o desempenho para o mês ficou negativo só em 2013 e este ano.
Só as despesas de abono e de seguro desemprego somaram R$ 9,6 bilhões, valor R$ 5,2 bilhões superior ao da média para o mês nos dois anos anteriores.
Pós eleições
Os números ruins põem em xeque a capacidade do setor público de cumprir a meta fiscal de 1,9% do PIB (R$ 99 bilhões) deste ano. O Itaú revisou sua projeção de 1,2% para 0,9%. Nem mesmo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, que sempre reiterou que o objetivo seria atingido, não tem mais certeza disso. “Agosto torna o cumprimento da meta mais distante, mas, como reforçou o próprio secretário (do Tesouro, Arno Augustin), todos trabalham para cumprir (a meta)”, disse.
Não é o que pensa a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, que classificou agosto como “tragédia fiscal”. Ela lembra que o resultado, apesar de pior do que o esperado pela média do mercado, que projetava superavit de R$ 500 milhões, poderia ter sido ainda pior não fossem os R$ 12,5 bilhões em receitas extraordinárias. “Se dependesse só do desempenho real da arrecadação, a já reduzida meta fiscal deste ano não teria chances de ser cumprida”, explicou.