
O feriado do Dia da Consciência Negra nos deve convocar à reflexão. Mesmo com todas as nossas diferenças, todos somos brasileiros. E ser brasileiro é carregar uma história que castigou a população negra ao longo da maioria do tempo, e ainda hoje nos lega uma persistente desigualdade social, econômica e política.
Aqueles que hoje têm maior dificuldade de encontrar um caminho positivo para suas vidas, a população negra do momento presente, são filhos, netos e bisnetos de seres humanos que vieram ao Brasil traficados. Escravizados e vendidos nos infames mercados portuários das cidades coloniais, africanos tiveram seus nomes adulterados, seus corpos violentados e sua capacidade de sobreviver levada além de todos os limites. Ainda assim, conseguiram sobreviver.
Se hoje podemos ter a diversa sociedade brasileira, isso se deve a muita resistência da parte dos negros de outrora, assim como à solidariedade de muitos outros que lutaram a seu favor. Nos tempos atuais, até mesmo a apropriação da memória social deste povo é objeto de luta, visto que nem os registros históricos do Brasil expressaram igualdade racial.
Assim sendo, o Dia da Consciência Negra se justifica como feriado nacional. E como tal, nos convoca a um posicionamento político coletivo. O Brasil deve à parcela negra de sua população, brasileiros e brasileiras donos dos mesmos direitos que todos os demais, a correção da injustiça histórica. E o Estado é o veículo para essa correção.
Ela deve ser feita olhando para frente: a criação de oportunidades iguais e uma condição geral de avanço social são necessidades urgentes. A criação de cotas em diferentes ambientes, criando acesso democratizado, deve ser acompanhada por políticas de desenvolvimento que promovam um crescimento da renda social. Não se deve perder de vista que dentre as muitas vítimas da desigualdade de renda no Brasil, negros e negras são os que mais sofrem, recebendo menos pelos mesmos trabalhos e frequentemente excluídos de forma sumária da vida social.
Em nossa carreira, tivemos nos últimos anos o grandioso exemplo de Roseli Faria, que infelizmente nos deixou este ano. Roseli foi uma negra brasileira pioneira na luta pela igualdade racial no serviço público, ao aplicar a Lei de Cotas no serviço público pela primeira vez, quando ficou responsável por liderar a organização de um concurso na década passada.
É de atos pontuais, cuja repercussão é geral e muitas vezes histórica, que a História se compõe. Que o Dia da Consciência Negra seja para todos nós um lembrete de que atos como o de Roseli Faria foram, ao longo da história do país, os motores de avanço da igualdade. Sempre que aconteceram, desde o Abolicionismo até as lutas atuais, os atos históricos destes heróis e heroínas se basearam numa tomada de consciência.
Que o feriado desta semana seja um chamamento à consciência negra de todos nós.