Apenas com Estado forte o Brasil voltará a ter segurança

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Os trágicos acontecimentos dos últimos dias no Rio de Janeiro escancaram uma realidade que afeta o Brasil todo. Teremos que reconhecer o problema e lidar com ele, se não quisermos que o problema do RJ se espalhe por todo o país, como aliás já começou a acontecer. O problema é: o Estado precisa voltar a cuidar da sociedade. Sem isso, as forças privadas legais e ilegais irão controlar cada vez mais corações e mentes, com suas lógicas de exclusão, consumo, preço e mercadoria.

Principalmente, as forças de mercado (legais e ilegais) se apoderam dos territórios brasileiros. Em muitas cidades, há grandes terrenos em poder de redes criminosas há muitos e muitos anos. Não por coincidência, estas ocupações ilegais do território se sobrepõem a ocupações informais antes associadas apenas à miséria. Ora, o abandono histórico de parte da sociedade levou à favelização, e a favelização facilitou o surgimento de organizações criminosas que hoje levam o terror a partes enormes da sociedade.

Não existe política de segurança pública eficiente e capaz de reduzir estes índices atuais de violência sem que o Estado possa investir e comandar a ação. E hoje, o que temos é um Estado sob fortes amarras fiscais, um sistema federativo que atribui responsabilidades enormes pela proteção da sociedade a governos muitas vezes endividados, e uma sociedade refém das omissões que disso decorrem.

E não se trata aqui de aderir a nenhuma retórica radicalizada. Nem é verdade que todo criminoso é apenas uma vítima da sociedade, e que se possam dispensar ações policiais duras contra redes criminais profissionalizadas, como também não é verdade que a matança indiscriminada, a violência pela violência, pode dar conta do problema.

Evidentemente, o problema coloca a necessidade de um “caminho do meio”. A solução vai aparecer por meio de uma mistura de ações de inteligência, policiamento de fronteira e das cidades, cooperação internacional, geração de oportunidades de trabalho digno e bem remunerado, educação pública de qualidade e requalificação urbana.

Muitas dessas funções são ações essencialmente de Estado. Serão as leis de oferta e demanda que resolverão o problema da segurança? É evidente que não. Sendo assim, é preciso recompor as capacidades do Estado e direcioná-lo de forma inteligente no sentido de uma solução efetiva.

Com a manutenção do tripé macroeconômico por mais tempo, o Brasil infelizmente verá um aprofundamento da insegurança, com preço cobrado em vidas. Quanto vale o combate permanente a uma inflação que há muitos anos já deixou de ser o pavor que foi na década de 1980?