Mulheres que inspiram: “nós mulheres, não podemos abaixar a cabeça e podemos, sim, disputar qualquer vaga sem medo”
Na continuação da série Mulheres que inspiram, realizada pela Associação de Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor) em homenagem a semana da mulher, vamos contar a história da Alessandra Galiciani, uma Analista de Planejamento e Orçamento (APO) pioneira. Com mais de 23 anos de carreira, Alessandra diz que já vivenciou diferentes desafios ao longo da trajetória profissional, mas ela destacou uma em especial que afeta a maioria das mulheres: o período de gestação e o retorno ao trabalho.
Em um mundo em que trabalho produtivo e trabalho reprodutivo encontram-se não apenas dissociados, mas são identificados com o sexo/gênero, as mulheres profissionais que escolhem também serem mães enfrentam muitas dificuldades em conciliar trabalho e maternidade. Alessandra fala sobre a falta de compreensão de seus subordinados e superiores e possíveis impactos na promoção e progressão da carreira.
Perguntada sobre como ela costuma inspirar e incentivar novas mulheres na carreira, a Analista de Planejamento e Orçamento é enfática: “incentivei diversas colegas a fazer o concurso e a disputarem seus espaços nesta área. E acredito que consegui mostrar que, nós mulheres, não podemos abaixar a cabeça e podemos disputar qualquer vaga sem medo.”
O primeiro texto da série foi publicado nessa segunda-feira, 6 de março. Clique no link a seguir para acessar a integra da entrevista: Mulheres que inspiram: “Posso ser uma exceção, sou negra e mulher”.
A segunda entrevista completa da série Mulheres que inspiram pode ser lida abaixo.
Quando entrou na carreira de planejamento e orçamento?
Em janeiro de 2000.
Como era a participação das mulheres e pessoas negras na carreira quando você entrou?
A quantidade de mulheres aprovadas era menor do que a quantidade de homens. Dizia-se na época que a SOF era composta apenas por homens e havia um “terrorismo” com relação a isso, o que fez com que muitas mulheres não optaram em ir para lá, inclusive eu.
Com relação às pessoas negras, não via nenhuma discriminação e nem forma diferenciada de tratamento.
Houve alguma percepção de melhora ou piora na participação das mulheres e das pessoas negras na carreira desde então?
Sim. Nós mulheres estamos em número superior ao que éramos antes, ainda em número menor que os homens, mas crescendo. Relativamente Às pessoas negras não tenho dados oficiais, mas aparentemente esse número também tem aumentado.
E com relação à participação das mulheres e pessoas negras na ocupação de cargos em comissão, você enxerga alguma mudança desde a sua admissão na carreira?
Os cargos de SPOAS e Coordenadores Gerais de Orçamento dos Ministérios são praticamente todos ocupados por homens. Não vi muita mudança com relação a isso. Na SOF aparentemente temos mais mulheres em cargos de comissão atualmente.
Você já ocupou cargos em comissão? Se sim, quais foram os principais desafios enfrentados?
Sim. Os maiores desafios aconteceram após a gravidez. Nem sempre os servidores que são subordinados a você e os chefes compreendem as novas necessidades das mães.
O que você acha que poderia ser feito para ampliar a participação das mulheres e das pessoas negras nas carreiras das finanças públicas?
Existe um machismo nessa questão. Acho que será um longo caminho para as mulheres nessa área.
A área de administração dos Ministérios é composta praticamente por homens. Acho que se separar SPO e SAA, poderíamos ter mais mulheres nas áreas financeiras e orçamentárias.
Que conselho você daria para as mulheres e pessoas negras que estão ingressando ou que pensam em ingressar em alguma das carreiras das finanças públicas?
Essa área é muito empolgante e nos dá um conhecimento do governo como um todo.
Por que você escolheu a carreira no serviço público? Houve incentivo por parte de alguém?
Era uma carreira boa, voltada para a área financeira, o que eu sempre gostei, pois sou formada em Ciências Contábeis. Meu irmão já era APO da turma anterior e me incentivou a fazer o concurso.
Quem é sua maior referência profissional? E por quê?
Tenho como referência as mulheres que ajudaram a criar a carreira, pois nesse período o machismo era ainda maior do hoje. Elas merecem toda a nossa admiração.
De alguma forma, você acredita que seu trabalho incentiva outras mulheres a ingressarem ou progredirem na carreira?
Com certeza. Fui Coordenadora de Planejamento por quase 14 anos no Ministério das Cidades e incentivei diversas colegas a fazer o concurso e a disputarem seus espaços nesta área. E acredito que consegui mostrar que, nós mulheres, não podemos abaixar a cabeça e podemos disputar qualquer vaga sem medo.
Por que é tão importante a equidade de gênero e raça nas instituições trabalhistas?
É de importância primordial. Todos temos capacidades e não podemos ser classificados pela cor da pele ou pelo gênero. Temos mulheres super capacitadas, temos negros super capacitados e temos mulheres negras super capacitadas. A diversidade, as capacidades, as habilidades, os conhecimentos das pessoas devem ser aproveitados ao máximo.