BC: Expectativas elevadas e incerteza fiscal impedem queda dos juros

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Uma redução da taxa básica de juros deve ser adiada enquanto asexpectativas do mercado não convergirem e ficarem ancoradas na meta de inflação de 4,5% em 2017 e enquanto o ajuste fiscal não for efetivado, observou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na ata de sua reunião mais recente, ocorrida na semana passada. Tais condições se sobrepõem à baixa da atividade econômica no país e ao enfraquecimento do mercado de trabalho. Os integrantes do colegiado afirmaram que o patamar de inflação demanda “persistência maior” da política monetária e reiteraram “não haver espaço para flexibilização”. De acordo com os diretores do Banco Central (BC), o processo de desinflação tem ocorrido em velocidade “aquém da almejada”. Em vez de uma queda maior da inflação — o que era esperado por “alguns membros” do colegiado diante da desaceleração econômica no país —, é observado que os índices de preços estão acima das expectativas no curto prazo e que há riscos nesse período, principalmente por causa do encarecimento de alimentos. Além disso, o documento apontou que a inércia inflacionária requer maior persistência da política monetária. “Períodos prolongados de inflação alta e expectativas acima da meta, como na experiência brasileira recente, tendem a reforçar mecanismos inerciais e tornar o processo de desinflação mais lento e custoso. Nesse contexto, uma maior persistência inflacionária requer uma persistência maior da política monetária”, afirmou a ata divulgada nesta terça­feira. A conclusão do debate do colegiado, resumido nos 20 parágrafos da ata, é que “todos os membros do Comitê reconheceram progressos em relação às perspectivas de desinflação da economia brasileira, mas demonstraram preocupação com medidas de expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus acima da meta para 2017 e com projeções do Comitê para a inflação que se situam acima da meta em horizontes de 18 ou mais meses, sob as hipóteses do cenário de mercado”. A ênfase na condução das expectativas permeia todo o documento, mas fica clara no parágrafo que diz que “o comitê deve procurar conduzir a política monetária de modo que suas projeções de inflação, inclusive no cenário de mercado, apontem inflação na meta nos horizontes relevantes”. Considerando a Selic a 14,25% e dólar a R$ 3,25, a projeção para a inflação está “em torno da meta de 4,5% já em 2017”. No cenário de mercado, que considera redução dos juros em 2016, a inflação para 2017 situa­se em torno de 5,3%. Para o Copom, o ajuste na economia, em especial as reformas fiscais, é “fundamental” para facilitar e reduzir o custo do processo de desinflação. Os integrantes do colegiado afirmam que há riscos no caso de se formar percepção de que os ajustes serão abandonados ou postergados significativamente. “Nesse cenário, o processo desinflacionário tenderia a ser mais lento”, apontou a ata. O contrário também é verdadeiro: caso os ajustes necessários sejam implementados de forma mais célere, isso permitirá ganhos de confiança e queda das expectativas de inflação. “Nesse caso, a redução de incertezas potencializaria os efeitos do ajuste monetário em curso”, informou o documento. Apesar de chamar atenção para a necessidade do ajuste fiscal, a ata ressaltou que há risco de certas medidas ligadas ao reequilíbrio das contas públicas terem “impactos diretos desfavoráveis sobre a inflação”, em uma possível referência ao aumento de impostos e contribuições para a elevação da arrecadação tributária. Tal possibilidade vem sendo sinalizada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “Esse é um risco a ser monitorado”, destacou o Copom. Do lado positivo do balanço de riscos, o BC citou “o processo contínuo de distensão do mercado de trabalho e a desaceleração significativa da atividade econômica”. Segundo os integrantes do Copom, esses são vetores que podem produzir uma desinflação mais rápida do que a refletida nas expectativas. No entanto, não há um consenso sobre o tema. “Alguns membros ponderaram que, diante da desaceleração econômica observada até aqui, esperava­se uma queda maior da inflação. Outros membros chamaram a atenção para a desinflação de serviços já observada. Alguns membros do Comitê esperam que os efeitos desinflacionários do nível de ociosidade na economia ainda possam vir a se manifestar de maneira mais intensa”, afirmou o documento. O BC reiterou que a economia segue operando com nível elevado de ociosidade, refletido nos índices de uso da capacidade da indústria e na taxa de desemprego, mas ponderou que alguns indicadores mostram perspectiva de estabilização da atividade econômica no curto prazo e interrupção da queda do investimento e da produção. “Os membros do Comitê concordaram que houve melhora perceptível do cenário macroeconômico.” Sobre o cenário externo, a avaliação do Copom é que há incertezas quanto ao crescimento global — a recuperação permanece “frágil” — e que há riscos deflacionários em economias desenvolvidas. Mas “alguns membros do Comitê” mostraram­se “relativamente otimistas” no curto prazo em relação ao ambiente para ativos de economias emergentes. No caso dos Estados Unidos, o entendimento é que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) acena com maior gradualismo na normalização de sua política monetária. O Copom chamou a atenção também para a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia (Brexit), que causou “breve período” de oscilações nos preços de ativos. No entanto, afirmou que sinalizações de estímulos adicionais por parte de autoridades monetárias de economias centrais “contribuíram para estabilizar os mercados financeiros e criar um ambiente de curto prazo relativamente benigno para economias emergentes”. Agora sob o comando de Ilan Goldfajn, e com o novo diretor de Política Econômica, Carlos Viana de Carvalho, o BC inovou no formato da ata. Ela está mais enxuta, com 20 parágrafos (contra 35 do documento anterior, divulgado sob a presidência de Alexandre Tombini), mas traz mais informações. Além disso, o texto está mais claro — foram inseridas, inclusive, notas de rodapé para esclarecer alguns termos (por exemplo, o que o BC considera ao mencionar a expressão “horizonte relevante”). O texto é inteiramente novo e não permite uma comparação direta com a ata anterior (antes, a ata seguia um certo padrão e apenas alguns trechos eram alterados – o que permitia saber qual a nova percepção do Copom sobre determinados temas a cada reunião). O documento também está parecido com as atas do Federal Reserve, que abre de forma mais clara as discussões dentro do próprio Comitê, mostrando a posição de “alguns”, “muitos” e a “totalidade” dos membros.