Economistas se dividem sobre o uso do termo recessão

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RIO – Já estamos em recessão? Economistas se dividem sobre se já podemos usar o termo recessão técnica para classificar o estado da economia brasileira. Com o resultado negativo de 0,2% no primeiro trimestre de 2015 frente ao quarto trimestre de 2014, existe na prática apenas um trimestre no vermelho e o termo não é o mais adequado. Pelo conceito clássico de recessão técnica são necessários dois trimestres negativos na comparação dessazonalizada, ou seja, aquela que leva em conta os efeitos típicos da época do ano.

Apesar disso, não há dúvidas de que a economia mostrou perda de fôlego. Foi o quarto trimestre consecutivo de queda na comparação com o mesmo período do ano passado e que nos últimos 12 meses, a economia tem uma retração de 0,9%.

Mesmo que a regra de bolso não valha para o curto prazo, não há dúvidas de que o ano será de recessão.

— É uma regra não escrita entre as pessoas que analisam conjuntura, mas o Brasil vai enfrentar uma recessão neste ano. As causas da recessão estão lá atrás, em políticas erradas e a política de ajuste garante que vamos ter uma redução da taxa de crescimento — afirma o economista Claudio Considera, do Ibre/FGV.

Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Carlos Prado, independentemente dos números, o país já experimenta uma recessão. Ele lembra do conceito de ciclos econômicos adotado pelo National Bureau of Economic Research (NBER), órgão de pesquisa privado. Para o NBER, “a recessão é um significativo declínio na atividade econômica disseminada por toda a economia, durando mais do que poucos meses, normalmente perceptível no PIB, na renda, no emprego, na produção industrial e nas vendas do varejo”, segundo o site da instituição.

— Independentemente da tecnicalidade do número, há claramente um cenário recessivo, com queda no consumo, nas vendas e no investimento. O clima geral é de aumento do desemprego, queda do nível de atividade e do investimento. É claramente um quadro recessivo e o próprio ajuste sinaliza que o cenário recessivo será aprofundado, com a redução do gasto público — afirma Prado.

As previsões de boa parte dos economistas é de uma queda ainda mais intensa do PIB no segundo trimestre do ano, em torno de 1%, e de um recuo de 1,24% no fim de 2015, segundo o Boletim Focus, do Banco Central.