Conjuntura política confusa

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O ambiente político está contaminado por dois fatos políticos: 1) a disputa PMDB versus PT e 2) a guerra de posições entre caciques do PMDB (Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha) em relação ao governo e à sucessão presidencial.

A disputa PMDB versus PT/governo, além da briga natural por posições no governo, tem duas outras motivações que explicam, em grande medida, a hostilidade do PMDB em relação ao segundo mandato da Presidente Dilma.

A primeira está relacionada com a desconfiança do partido de que o governo e o PT estavam manobrando para esvaziá-lo, com o apoio dado à criação do Pros e do PSD e, posteriormente, com o espaço que reservou a esses dois partidos no governo: Educação e Cidades.

A segunda tem a ver com a disputa pela presidência da Câmara, em que setores do governo fizeram campanha para o candidato do PT, Arlindo Chinaglia, contra Eduardo Cunha, o candidato do PMDB.

Como Eduardo Cunha ganhou a disputa em primeiro turno e sem depender do PT nem do PSDB, aglutinou em torno de sua liderança não apenas os partidos que fizeram parte do bloco para sua eleição, mas também a oposição, que tinha e tem interesse no desgaste do governo e do PT.

Um de seus primeiros gestos de hostilidade ao governo foi declarar que não reconhecia o coordenador político do governo, o então ministro Pepe Vargas, que tinha atuado abertamente pela eleição de Chinaglia. A Presidente foi obrigada a trocar a coordenação política, que foi entregue ao vice-presidente, Michel Temer.

Em relação ao segundo fato político, a disputa entre caciques do PMDB, o governo continuou sendo a maior vítima. Cada um dos três peemedebistas, a partir de suas posições institucionais, montou suas estratégias para continuar com perspectiva de poder.

Michel Temer, além do posto formal de vice-Presidente da República e de presidente do PMDB, assumiu a coordenação política do governo, o que o credencia para uma interlocução privilegiada com todas os partidos da base aliada.

O sucesso de sua estratégia depende do desempenho como coordenador político. Assim, todo o empenho será feito para parecer leal ao governo e eficiente nessa tarefa.

Teve o cuidado de separar o que seria assunto de governo do que é assunto dos partidos. Com isso, exclui de sua responsabilidade a maioria das proposições de iniciativa de parlamentar, como foi o caso da terceirização e da PEC da bengala.

Seu projeto é suceder à Presidente Dilma. Se, eventualmente, a Presidente for impedida, ele assume a presidência imediatamente e precisa fazê-lo com o governo organizado e sem a pecha de ter conspirado para isso. Se o governo concluir o mandato com controle sobre a agenda congressual, Michel se cacifa para ser candidato à sucessão.

Já Renan Calheiros, que utiliza como trincheira a presidência do Senado, tem duplo desafio. O primeiro é ser inocentado na investigação da Operação Lava Jato. O segundo é alterar a Constituição para renovar seu mandato na presidência da Casa, tema no qual há acordo com Eduardo Cunha, e manter-se como alternativa para a Presidência da República em 2018.

Sua estratégia é complexa. Ora hostiliza o governo, para forçá-lo a defendê-lo na investigação da Lava Jato, ora se alinha, para fazer o contraponto à Eduardo Cunha.

Tem buscado se credenciar como candidato, aproximando-se dos empresários (devolução da MP 669 e defesa da política de apoio ao emprego) e dos trabalhadores ao criticar as MPs do ajuste, a terceirização e a pejotização generalizadas.

Eduardo Cunha, por sua vez, também tem o desafio de ser inocentado na Lava Jato, mas está em melhor posição do que Renan.

Apresenta-se como independente e tem imposto uma agenda conservadora no campo dos valores e também de interesse do setor empresarial, que mais atrapalha do que ajuda ao governo.

É a maior e a mais temida liderança do Congresso hoje. Reúne em torno de si um verdadeiro Centrão, maior até do que o da Constituinte.

Os próximos episódios da crise política dependerão do movimento desses três atores políticos. Os interesses políticos estão acima de qualquer coisa. Por isso, se não houver uma mediação entre eles, o governo será o principal prejudicado, porque terá que conviver com permanente tensão, além do risco de aprovação de matéria com lógica oposta ao ajuste fiscal.

 

(*) Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, Analista Político e Diretor de Documentação do Diap.