Eletrobras tem o menor investimento para o 1º bimestre desde 2010

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Em meio à crise do setor elétrico, o grupo Eletrobras realizou o menor investimento para o primeiro bimestre desde 2010. Levantamento feito pela ONG Contas Abertas mostra que a estatal investiu 523,4 milhões de reais entre janeiro e fevereiro de 2014, frente aos 488,9 milhões de reais investidos nos dois primeiros meses de 2010. O número é 193 milhões de reais menor do que a cifra de igual período de 2013 (716,3 milhões de reais) e corresponde a apenas 5,3% do valor autorizado em Orçamento, de 9,9 bilhões de reais.

De acordo com o Contas Abertas, o projeto com maior investimentos para este ano é a de Implantação da Usina Termonuclear de Angra III, com 1.309 MW (RJ), sob responsabilidade da Eletronuclear. A terceira usina da central nuclear de Angra dos Reis recebeu apenas 78,4 milhões de reais no primeiro semestre, o que equivale a apenas 4% dos 2,1 bilhões de reais autorizados para o ano.  Já a “Implantação do Sistema de Transmissão de Energia Elétrica na Região Nordeste”é a segunda com maior dotação orçamentária em 2014. Para a ação que pretende ampliar o Sistema de Transmissão de Energia Elétrica da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) foram autorizados 624,1 milhões de reais. A Eletrobras investiu apenas 57,3 milhões de reais na iniciativa durante o primeiro bimestre.

De acordo com a Eletrobras, historicamente, os dois primeiros bimestres são mais lentos no desembolso do orçamento. Entre as razões apontadas pela empresa para o baixo ritmo de execução estão o regime de contratação regido pela Lei 8.666 (lei das licitações) e as dificuldades em conseguir licenças ambientais nas obras em execução. A estatal destacou, entretanto, que a série dos últimos anos mostra que há grande desembolso de recursos na segunda metade do ano, o que vem nos garantindo investimentos, como em 2013, quando foram realizados 83,5% do orçamento previsto, de 13,4 bilhões de reais. “O desempenho é inédito em nossa história”, afirma a assessoria da Eletrobras. 


Cenário — Apesar de o governo negar, o setor enfrenta um risco de apagões e de racionamento de energia devido ao baixo nível dos reservatórios das usinas do Centro Oeste e Sudeste. Soma-se ao cenário de poucas chuvas, as dificuldades que o setor vem enfrentando devido aos prejuízos provocados pela renovação antecipada das concessões, em 2012. Medida que foi criada pelo governo Dilma Rousseff para garantir o desconto médio de 20% na conta de luz.

Para tentar reverter o cenário, o governo anunciou em março um pacote de 12 bilhões de reais de socorro ao setor elétrico. Do montante, 4 bilhões de reais serão originados do Tesouro Nacional e os outros 8 bilhões de reais por meio de bancos públicos e privados, em forma de empréstimos às distribuidoras. No fim das contas, o valor será pago pelos consumidores – via aumento da tarifa – e pelos cofres públicos. 

Prejuízo — Na semana passada, a Eletrobras anunciou prejuízo líquido de 6,287 bilhões de reais em 2013. De acordo com o presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, o prejuízo de 2013 foi influenciado por “fatores recorrentes”, ou seja, gastos a mais que a empresa teve no ano passado e não devem ocorrer novamente. Ele citou como exemplo o custo com o programa de incentivo a demissões, que atingiu no ano passado 4,2 mil funcionários e custou à Eletrobras 1,72 bilhão de reais.

O prejuízo também foi influenciado pela renovação antecipada de concessões. Ao aceitar as renovações, dentro das condições propostas pelo Planalto, a Eletrobras deixou de receber, no ano passado, 8,75 bilhões de reais pela operação de usinas e linhas de transmissão. Carvalho Neto afirmou que a estatal deve registrar lucro em 2014. Se ele se confirmar, seria o primeiro desde 2011. “Esse ano a Eletrobras espera ter lucro. Todos os nossos estudos indicam nesse sentido”, disse. 

Na ocasião, Carvalho Neto afirmou que a companhia continua com grau de investimento, embora tenha tido o rating rebaixado pela Standard & Poor’s. Já o diretor Financeiro da Eletrobras, Armando Casado, disse que o rebaixamento não deve atrapalhar os negócios da companhia.