Com energia a preço recorde, mercado aposta em geradoras

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Autor(es): Bruno Villas Bôas João Sorima Neto

O elevado custo da energia elétrica e o apagão que afetou 12 estados e o Distrito Federal na terça-feira derrubaram as ações das distribuidoras e geradoras de energia elétrica na semana passada. Mas, em meio às perdas, os analistas de bancos e corretoras refizeram contas e começam a encontrar oportunidades de investimento no setor. É o caso das geradoras de energia Cesp, Cemig e Copel, que podem se beneficiar da escalada do preço no mercado livre para R$ 822 o megawatt-hora (MWh), o teto estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O analista Vitor Sousa, da corretora GBM, diz que as três geradoras têm em comum energia descontratada, ou seja, ainda não comercializada para as distribuidoras (como Light e Ampla, por exemplo). Apesar de também terem operações como distribuidoras, essas empresas podem comercializar a energia no mercado livre e se valer do avanço dos preços para os níveis recordes:

— A Cesp não renovou a concessão de uma de suas usinas que serão devolvidas para a União. Ela não pôde vender a energia em contratos de longo prazo. Por isso, possui maior volume de energia disponível.

Setor em baixa nas carteiras

O lucro líquido somado das três companhias pode ser incrementado em R$ 517 milhões se o preço médio da energia continuar no patamar de R$ 800 no mercado livre ao longo de fevereiro, já considerando uma queda de 5% na geração de energia hidrelétrica provocada pela falta de chuvas, segundo estimativas do banco Credit Suisse.

O analista Vinícius Canheu explica que a manutenção do megawatt-hora em patamar elevado dependeria, entre outros fatores, do uso de térmicas.

— O preço só fica em R$ 822 se todas as térmicas estiverem acionadas. Isso só ocorre no pico do verão — frisa Canheu.

No caso das distribuidoras, o governo anunciou na quarta-feira que vai fazer aportes adicionais na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para compensar as empresas pelo uso de energia térmica e evitar um aumento na tarifa. O Orçamento de 2014 já prevê aporte de R$ 9 bilhões, mas há expectativa de um volume maior. Mesmo assim, o mercado segue reticente sobre os papéis.

Segundo Raphael Figueiredo, analista da Clear Corretora, os papéis são recomendados apenas para o longo prazo.

— As ações de elétricas caíram numa espécie de limbo. Acabou a previsibilidade de resultados dessas companhias.

Em dez carteiras de ações recomendadas por corretoras a seus clientes em fevereiro — divulgadas antes do apagão de energia —, com 104 papéis sugeridos para o mês, somente cinco eram do setor elétrico. As ações recomendadas eram Tractebel ON (duas vezes, por Planner e Ativa), Equatorial ON (Ativa), Taesa (Concórdia) e CPFL (Concórdia).

Perda de R$ 60 bilhões desde 2011

Os papéis do setor elétrico estão em baixa nas recomendações dos analistas desde 30 de agosto de 2012. Foi quando o governo alterou as regras de renovação das concessões do setor por meio da Medida Provisória (MP) 579, transformada em lei em janeiro do ano passado.

— Estamos num contexto complicado: recordes de calor, reservatórios de hidrelétricas desabastecidos, pico de consumo de energia, risco de racionamento e produção em queda. Só depois de março será possível ter uma ideia mais consistente do que esperar — avalia Marco Barbosa, analista-chefe da corretora Coinvalores.

O investidor Paulo Bertoluci evita ações do setor elétrico como investimento de longo prazo. Para ele, os papéis viraram “batata quente” após as mudanças:

—Invisto em ações do setor elétrico apenas em operações de um único dia, aproveitando a instabilidade.

Levantamento da consultoria Economatica mostra que as ações de 28 empresas do setor perderam R$ 60 bilhões em valor de mercado desde o fim de 2011, antes da MP.