Descrédito completo
Autor(es): DECO BANCILLON
O mercado financeiro está mais pessimista do que nunca com o desempenho da economia brasileira. Após três anos de frustrações com os resultados econômicos, o sentimento geral entre analistas de corretoras e de grandes bancos é de total descrédito com as ações da equipe da presidente Dilma Rousseff. A mais recente aposta para 2014 é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 1,95%, bem abaixo da estimativa oficial de 4% que consta do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviado pelo Executivo ao Congresso.
O pessimismo marca uma nova característica do governo Dilma: a de não mais contar com a confiança do mercado nos primeiros meses de cada ano. De 2011 a 2013, os analistas erraram sempre “para cima” as projeções para o desempenho da economia. Em 3 de janeiro de 2011, por exemplo, na pesquisa semanal Focus, divulgada pelo Banco Central, eles apostavam que o crescimento do PIB daquele ano seria de 4,5%. O resultado, uma alta de 2,73%, mostrou que o otimismo era exagerado.
O mesmo aconteceu em janeiro de 2012, quando o mercado cravou que o crescimento daquele ano seria de 3,3%. A realidade foi bem mais amarga: expansão de apenas 1%. No início de 2013, a previsão era de que o PIB cresceria 3,26%. Os números oficiais ainda não foram fechados, mas poucos acreditam que o resultado chegará a 2,5%.
A sequência de previsões erradas provocou a mudança de postura. Agora, os analistas decidiram apostar, já a no início do ano, em um desempenho mais fraco da economia. Caso a situação seja melhor do que a imaginada, eles poderão corrigir as projeções para cima.
Em conversas reservadas, dois graduados técnicos da equipe econômica disseram que o fim do voto de confiança do mercado se deve ao fato de que, antes, os analistas estavam “mais otimistas do que deviam” com a economia. “Não há dúvida de que boa parte dos problemas que estão sendo apontados agora, como infraestrutura deficiente e fraqueza da indústria, já existia na época em que as apostas eram sempre maiores do que os resultados efetivos”, disse um dos técnicos. Ele acredita, no entanto, que as correções feitas a partir de agora serão sempre “para cima”, exatamente como ocorria no fim do governo Lula (veja o quadro).
É no que também acredita o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. “As projeções para o PIB vêm caindo desde a divulgação do resultado do terceiro trimestre do ano passado, quando a economia encolheu 0,5%. As correções já eram esperadas, mas existe um certo exagero nesse pessimismo todo”, disse.
Surpresas negativas
As apostas do mercado caíram à medida que o governo foi colecionando maus resultados na economia, o que alimentou o pessimismo de investidores. “A gente passou por um período de muitas surpresas negativas, sobretudo a partir do governo Dilma. Então, quem começava o ano muito otimista ia logo se decepcionando. Agora, a situação se inverteu”, explicou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. Ela, no entanto, não acredita que haverá correções para cima. “A projeção de alta de 1,95% para o PIB leva em conta um cenário pouco amigável para a economia. A alta dos juros, apesar de iniciada em abril de 2013, deve produzir efeitos mais fortes a partir deste ano”, disse.
» Pessimismo sem fim
Após anos de decepções com o governo, empresários e investidores
iniciam 2014 com projeções bem ruins para a economia
Longe do alvo
O que o mercado esperava da economia no início de
cada ano e o que realmente aconteceu
No governo Lula, mercado subestimava o PIB
Data Expectativa para Desempenho
o ano (em %) final (em %)
2/1/2007 3,5 6,1
2/1/2008 4,5 5,2
2/1/2009 2,4 -0,3
4/1/2010 5,20 7,5
No governo Dilma, as apostas para o PIB são superestimadas
Data Expectativa para Desempenho
o ano (em %) do ano (em %)
3/1/2011 4,5 2,7
2/1/2012 3,3 1,0
2/1/2013 3,3 2,3*
3/1/2014 1,9 4,0**
* Projeção boletim Focus
** Projeção da LDO
Ladeira abaixo
Pessimismo com o PIB reflete desconfiança em relação ao governo. Ao longo de 2013, mercado só cortou projeções para o crescimento
Mês 2013 2014
Janeiro 3,3 3,8
Fevereiro 3,1 3,7
Março 3,0 3,5
Abril 2,8 3,4
Maio 2,5 3,2
Junho 2,4 3,0
Julho 2,3 2,8
Agosto 2,2 2,5
Setembro 2,4 2,3
Outubro 2,5 2,2
Novembro 2,5 2,1
Dezembro 2,4 2,1
Fontes: Banco Central, Ministério da Fazenda, IBGE e CNI