Ônibus mais competitivo

220

A disparada recente nos preços das tarifas aéreas está resgatando para os ônibus passageiros perdidos para o avião. Esse caminho de volta deverá fazer as companhias rodoviárias recuperarem uma importante fatia este mês, com as festas de fim de ano e férias, nas viagens interestaduais. A expectativa é que sejam transportadas quase 6,5 milhões de pessoas no período. E a maior contribuição virá da classe C, justamente a que, nos últimos anos, mais experimentou a chance de voar pela primeira vez.

A razão para pegar a estrada está no bolso. O turista de Brasília que quiser contemplar o espetáculo pirotécnico na virada de ano em Copacabana, no Rio de Janeiro, não deve gastar menos de R$ 1,5 mil caso escolha ir de avião. Esse valor é quase quatro vezes superior ao despendido na alternativa ônibus. Os novos patamares de preço assustam, confessa o programador Leandro Senna, 24 anos, que passou o último fim de semana na capital carioca. “Apesar do cansaço, achei vantajoso pagar R$ 300 em vez de R$ 850. Se voltar lá em dezembro, será também de ônibus, pois é o que cabe no meu orçamento”, pondera.

As tarifas das companhias aéreas decolaram, e os clientes só encontram trechos vendidos abaixo de R$ 200 em 2014. “Até tem passagem por R$ 160, mas só para o carnaval. O mais em conta agora sai a R$ 590, dinheiro que não tenho”, conta a atendente de restaurante Luana Conceição, 37, que embarcou de ônibus para Valença (BA), por R$ 218.

Até profissionais envolvidos com o modal terrestre estão surpresos com a mudança de hábito dos passageiros. “Esperava o contrário, pois as empresas aéreas vinham mostrando crescimento explosivo”, avalia o gestor da Rodoviária Interestadual de Brasília, Rodrigo Fernandes. Ele acredita que o fluxo de passageiros no terminal em dezembro será 3% superior aos 165 mil registrados em igual mês de 2012. Em todo o país, 6,2 milhões de indivíduos circularam nas rodoviárias em dezembro do ano passado, conforme dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Antes mesmo do período de alta demanda, as companhias rodoviárias vinham registrando crescimento. A Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) registra ganhos de 5% a 10% nos últimos seis meses, perspectiva reforçada pelo encarecimento das passagens aéreas. O diretor comercial da Itapemirim, Hugo de Faveri, revela que a compra de bilhetes pela internet subiu 39,6% desde agosto, sobretudo no último mês. A ocupação média avançou 6% e a frequência de viagens, 5,5%. “Prevemos receita 14% maior em dezembro”, aposta.

Custo maior
Apesar do aumento da concorrência, o setor aéreo ainda não tem do que reclamar. O transporte rodoviário interestadual de longa distância recuou de 70,4 milhões de passageiros em 2003 para 58,8 milhões no ano passado, 16,5% a menos. No mesmo intervalo, o transporte doméstico de pessoas pelas aeronaves saltou em média 14% ao ano. Só em outubro, essa demanda cresceu 4,2% sobre igual período de 2012, um recorde para o mês. Naquele ano, foram 101 milhões de passageiros domésticos, sendo 13,2 milhões só em dezembro.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, reconhece a preocupação de algumas famílias com as passagens mais caras, mas ressalta que, até 2012, o preço médio das tarifas vinha caindo, abrindo espaços para novos clientes. “Em 2012, o preço chegou à metade do que era praticado em 2002”, sublinha.

“A questão é que tivemos uma explosão de custos este ano, puxados pelo dólar e pelo querosene, que levou o preço médio a subir cerca de 5%. Se a passagem sobe 10%, o público diminui 14%”, estima, enfatizando que a moeda norte-americana tem impacto de 60% do custo operacional das companhias, e o combustível das aeronaves está 20% mais caro que no exterior.