Expansão de 1,05% registrada pelo BC no 1º tri deve arrefecer

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Autor(es): Por Juliana Elias e Murilo Rodrigues Alves | De São Paulo e Brasília

 

Entre altos e baixos, a economia brasileira acelerou seu ritmo de crescimento no primeiro trimestre em comparação ao que vinha registrando em 2012, mas os indicadores já disponíveis de abril e maio indicam que continuará oscilante e, nos próximos trimestres, deve desacelerar, segundo economistas consultados pelo Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do Valor.

Pelo IBC-Br, índice de atividade econômica mensal do Banco Central (BC), divulgado ontem e que serve como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o país cresceu 1,79% sobre o primeiro trimestre de 2012, sem ajuste sazonal, e, na passagem do quarto trimestre para o primeiro de 2013, cresceu 1,05%, na série com ajuste. O desempenho já é melhor que o verificado no final de 2012 – no quarto trimestre, o crescimento havia sido de 0,6% ante o terceiro -, mas o aumento é resultado de um vai-e-vem mês a mês que dá poucas indicações de uma recuperação firme: em janeiro o IBC-Br subiu 1,05%, em fevereiro caiu 0,36% e, em março, voltou a subir, com variação de 0,72% ante fevereiro.

A patinação reflete o que aconteceu em vários setores no comércio e na indústria e deve continuar ditando o ritmo nos próximos meses. “Dados preliminares mostram que abril deve ter um crescimento mais robusto que março, mas para maio indicam uma maior volatilidade e pode haver uma desaceleração”, disse Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES), citando números já conhecidos do mês passado como produção de automóveis, tráfego de veículos nas estradas e alguns indicadores de consumo. “É esse o movimento que deveremos continuar observando ao longo do ano. Há uma recuperação, mas ela é moderada, pouco intensa.”

“O IBC-Br reforça nosso cenário de um PIB de 1% no primeiro trimestre de 2013, com destaque para uma aceleração forte de investimentos, do lado da demanda, e para a produção agropecuária, do lado da oferta”, disse o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros. “Os dados para o segundo trimestre, no entanto, têm indicado um ritmo mais lento da atividade, em torno de 0,7% por trimestre”, completou o economista, que projeta 2,8% para o PIB em 2013.

Rafael Bacciotti, analista da Tendências Consultoria, destaca que, embora a indústria tenha mostrado um pouco de reação, puxada principalmente pelo setor de bens de capital, e os investimentos estejam em alta, é difícil garantir que estes motores continuem com a mesma potência. “Os investimentos estão muito puxados por questões pontuais e incentivos que adiantaram as compras de máquinas”, disse Bacciotti, citando programas de incentivo do governo ao financiamento como o PSI e o Brasil Maior. Cálculos de outra consultoria, a LCA Consultores, estimam que a chamada formação bruta de capital fixo, que mede os investimentos, foi o fator que mais puxou o PIB no primeiro trimestre, com uma alta de 6,7%, para um PIB que crescerá 1% no total sobre o trimestre anterior.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também destacou, ontem, o fato do crescimento no primeiro trimestre do ano ter sido puxado pelo investimento e pela indústria de transformação. “Se isso de fato aconteceu [o crescimento de 1,95% no trimestre], significa que a economia estaria crescendo próximo de 4%. E o mais importante é a qualidade do crescimento, que está sendo capitaneado pelo investimento”, disse Mantega, na portaria do ministério, ontem.

O ministro argumentou que o cenário internacional não melhorou conforme o esperado. Segundo ele, a União Europeia está em recessão e os Estados Unidos mostram “crescimento, porém de forma lenta”. “Então nós dependemos de nós mesmos”, afirmou o ministro. “Estamos conseguindo superar as dificuldades e, mesmo assim, conseguir um crescimento maior que no ano passado.”

Outro fator que corrobora com as percepções de que a atividade será mais fria nos meses seguintes é a desaceleração que já aparece nos setores de comércio e serviços, puxado por um consumo das famílias em desaceleração, mercado de trabalho que já não cria mais tantas vagas como nos anos recentes e uma renda que, além de corroída pela inflação, também já não cresce com o mesmo ímpeto. Para se ter uma ideia, enquanto a produção industrial cresceu 0,8% do quarto para o primeiro trimestre, segundo o IBGE, as vendas do varejo, divulgadas ontem, tiveram queda de 0,2%.

A expansão de 1,05% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último de 2012 com ajuste sazonal é a maior desde o crescimento registrado no primeiro trimestre de 2011 sobre o último de 2010. Ou seja, é a maior alta em dois anos quando se faz a comparação entre o trimestre e o imediatamente anterior. No primeiro trimestre do ano passado sobre o quarto de 2011, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou queda de 0,48%, sempre fazendo os ajustes sazonais. (Colaboraram Eduardo Campos e Lucas Marchesini, de Brasília)