Pibinho não preocupa

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Autor(es): DECO BANCILLON

“Tão ou mais importante que o PIB é a geração de empregos”
Guido Mantega, ministro da Fazenda

O governo elegeu o emprego como principal bandeira de campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. Diante da incapacidade de impulsionar a retomada do Produto Interno Bruto (PIB), que há dois anos acumula alta de apenas 1,8%, o pior desempenho desde a administração Collor, o Palácio do Planalto já definiu que o discurso da equipe econômica deverá se centrar na manutenção do mercado de trabalho aquecido, deixando de lado, pelo menos publicamente, o compromisso de perseguir taxas mais robustas de crescimento. Ontem, ao se reunir com parlamentares do PT na Câmara, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, seguiu a cartilha governista e avisou que “tão ou mais importante que o PIB é a geração de empregos”.

Para o mercado, o recado foi mais uma sinalização de que o governo não tomará medidas visando combater a inflação que resultem em desaquecimento do consumo interno. “Na verdade, a fala do ministro (Mantega) apenas segue a linha da chefe dele, a presidente Dilma, que já vem dizendo que não vai reduzir emprego. E isso coloca uma preocupação a mais para o controle da inflação, que dificilmente caminhará para o centro da meta, de 4,5%”, disse o economista-chefe do BES Investiment Bank, Jankiel Santos.

Nas contas dele, em 2013, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) deverá acumular alta de 6%, apenas 0,5 ponto percentual acima do teto da meta, de 6,5%. Já a Fazenda trabalha com uma previsão mais otimista, de alta entre 5% e 5,5%. Para isso, conta com a reversão nos preços dos alimentos, que correspondem a 44% do IPCA.

O próprio Mantega admitiu ontem que a variação da inflação registrada em abril, de 0,55%, “veio um pouco acima do previsto”. No entanto, garantiu que os preços “estão sob controle”, e que esses caminharão para o centro da meta já nos próximos meses. Hoje, mesmo com todo o esforço do governo em cortar impostos sobre a conta de luz e a cesta básica, o índice acumula alta de 6,49% nos últimos 12 meses encerrados em abril.

Jankiel avalia que, com o consumo aquecido e preços lá em cima, era de se esperar que o PIB reagisse. Mas hoje são poucas as vozes no mercado que acreditam numa taxa de expansão da economia na casa dos 3,5%, conforme defende o governo no projeto encaminhado ao Congresso na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). “No setor industrial, o sentimento geral para 2013 é de que o PIB ficará entre 1,5% e 2%, no máximo”, disse o presidente da Câmara da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady Simão.

Para Mantega, mesmo que lenta, a trajetória do crescimento é de “retomada gradual”. “O PIB, no primeiro trimestre, vai ter um desempenho melhor que o do quarto trimestre do ano passado, mas ainda não sabemos quanto”, disse. Para ele, prova dessa melhora é o resultado da produção industrial, que avançou 0,8% no primeiro trimestre de 2013. “É bom, podia ser melhor, mas representa crescimento anual de 3%”, ponderou.