Integração depende de governos, afirma bilionário

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Por De Chascomús (Argentina)

“A integração econômica entre o Brasil e a Argentina depende cada vez mais dos governos dos dois países, e não do setor privado”, afirmou o empresário argentino Eduardo Eurnekian. Dono da Corporación America, holding que conquistou a concessão dos aeroportos de Brasília e Natal em parceria com a Engevix, Eurnekian é a quarta pessoa mais rica da Argentina, de acordo com a revista “Forbes”, com uma fortuna de US$ 1,8 bilhão. Ele também faz parte de um grupo de 20 empresários, dez de cada país, formado pelas presidentes do Brasil e da Argentina para fomentarem a “integração produtiva”.

Na próxima semana, a presidente Dilma Rousseff visita Buenos Aires sob um cenário de desinvestimento empresarial do Brasil na Argentina: os ativos de refino e distribuição da Petrobras estão à venda e a mineradora Vale cancelou, no mês passado, o projeto de exploração de potássio na província de Mendoza. Esse era o maior investimento estrangeiro direto do país.

“Os grandes investimentos que precisam ser feitos tanto em um país como no outro envolvem obras de infraestrutura. Não adianta pensar que os empresários vão se encarregar de conectar um país ao outro. Eles não tem esse poder político”, disse Eurnekian. Um dos motivos centrais para o fim do projeto da Vale foi sua complexidade: o empreendimento envolvia a construção de uma ferrovia e de um terminal marítimo, e estabelecia concessões para diversos municípios e governos regionais.

“Toda a estrutura empresarial no Brasil e na Argentina é exógena, está voltada para outros mercados”, afirmou o empresário argentino. O grupo de Eurnekian é voltado para a área de serviços de logística e tem grande exposição ao poder público, já que se ancora em concessões e obras do Estado. Mas possui várias outras atividades: produz vinho com a marca “Bodega del Fin del Mundo”, responde por 500 mil toneladas de biodiesel, é dono de 15% da safra argentina de algodão e inaugura nas próximas semanas uma fábrica de semicondutores de silício. A Corporación America não divulga balanço, mas a principal empresa do grupo, a Aeropuertos Argentina 2000, teve um faturamento de US$ 476 milhões no ano passado.

Filho de armênios, Eurnekian iniciou no mundo empresarial na área têxtil, ramo que desativou nos anos 90, quando participou dos processos de privatização e redução do Estado no governo de Carlos Menem. Mantém boa relação com a presidente Cristina Kirchner, com tensões pontuais por atrasos em investimentos previstos no contrato de concessão e conflitos de interesses entre a concessionária de aeroportos e sua principal cliente, a estatal Aerolineas Argentinas. O presidente do grupo é o ex-chanceler Rafael Bielsa.

“Não seria louco de permanecer na área têxtil, como não dá para permanecer em nenhuma área em que não existam vantagens comparativas claras em relação à produção em outro mercado. O problema no mundo dos negócios não é tomar uma boa decisão, mas saber sair das más”, afirmou.