Visão do Correio :: Os custos do crescimento

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Correio Braziliense – 01/04/2013

 

 

Pesquisa recente da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) indicou que o setor de transporte do país é o mais atingido pelos custos refratários. Entre eles, tributação e infraestrutura. No levantamento, foram ouvidas 127 organizações, das quais 11% apontaram o segmento como o mais prejudicado, seguindo-se o de serviços (9%) e o de energia (8%). Mais: para 29% das empresas, a carga tributária interfere na expansão da produtividade e inibe a competitividade, além da burocracia e da emaranhada legislação trabalhista (14%). 

Segundo 13% dos entrevistados, a falta de investimento em infraestrutura foi considerada um entrave à disputa de mercados, bem como o sistema educacional, tanto público quanto privado. Os indicadores contrários ao crescimento não param por aí: 71% dos ouvidos pela FNQ consideram que o governo — a exemplo dos anteriores — não se empenha para reduzir os custos sistêmicos. 

As deficiências da infraestrutura — rodovias, ferrovias, portos, saneamento e outros setores — refreiam o ânimo de quem deseja investir no país. O número de gargalos vem se multiplicando nos últimos anos, aumentando substantivamente o custo Brasil, expressão aparentemente batida, mas pertinente quando se analisa o porquê das taxas baixas do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O conjunto de problemas estruturais faz que os produtos e serviços sejam mais caros e menos eficientes, barrando investimentos e o crescimento interno.

Nos últimos dias, a mídia vem noticiando o engarrafamento de caminhões carregados de mercadorias — especialmente grãos — nas rodovias de acesso ao Porto de Santos, em São Paulo. Por dias a fio, carretas e motoristas nervosos praticamente pararam as estradas. Muitos importadores, de vários países, cancelaram pedidos e optaram por matérias-primas de outros exportadores. Com isso, sobe o custo do transporte da safra por rodovias precárias e dos embarques em portos com capacidade defasada. 

Se o Brasil desejar de fato atingir status de desenvolvimento estável e sustentável, o custo operacional precisa ser cirurgicamente reduzido. Certo é que o complexo produtivo enfrenta diurnamente uma série de dificuldades para gerir os negócios: cipoal de impostos e taxas, sistemas trabalhista, previdenciário e fiscal intrincados, infraestrutura deficiente, taxa de juros elevada. Enquanto a carga tributária se aproxima dos 40% do PIB, a arrecadação de impostos e contribuições federais bateu novo recorde em janeiro, com alta real de 6,59%.

 O fato mostra que o empresariado do país, mesmo enfrentando um rosário de obstáculos, não desanima e continua acreditando que o Brasil tem futuro. É preciso, pois, que o Estado faça a sua parte — e direito. Caso contrário, a crença pode descambar para o pessimismo.