Visão do Correio :: Juros, banca especulativa e economia real

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Correio Braziliense – 22/10/2012

 

O cidadão brasileiro já deve ter se acostumado à chiadeira com a alta e também com a queda dos juros no país. Esteja em ascensão ou em declínio a maré das taxas, sempre haverá quem critique a política monetária. O Banco Central é tal qual juiz de futebol contra quem a torcida do time perdedor grita toda sorte de impropérios. É natural. Afinal, no jogo especulativo do mercado há apostas em altas e em baixas. E não é pouco o dinheiro envolvido. Como igualmente fartos, além de subjetivos, são os argumentos pró e contra. Em suma, é fácil alimentar a banca, puxando a brasa ora para a sardinha de um, ora para a de outro.

Da última vez em que o Comitê de Política Monetária se reuniu, cortou mais 0,25 ponto percentual na Selic. Não tardaram a alardear que a autoridade monetária dera pouca atenção à inflação. Supondo que o Copom tivesse interrompido ou invertido a curva descendente do juro básico da economia, certamente, haveria quem o acusasse de indiferença ante o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja, se correr, o bicho pega; se ficar, come. O jeito de escapar é ignorar a especulação e as choradeiras e fixar o olho na economia real, agindo na hora e na medida certas.

Encontrar o ponto de equilíbrio, sim, é equação difícil. Tanto que o último corte da Selic não foi decidido por unanimidade. Cinco diretores entenderam haver espaço para nova baixa e três preferiam estabilizá-la. Em 12,5% ao ano em agosto do ano passado, o juro chegara a 7,5% e terminou por cair para 7,25%. É o patamar mais baixo de toda a sua história, mas segue como um dos mais elevados do mundo. Por quê, se entre o fantasma da inflação e o da recessão, esse último parece mais assustador? 
Ora, se a alta dos preços supera o centro da meta (4,5%) no acumulado de 12 meses, flutuando acima de 5%, também está aquém do teto, de 6,5%. Portanto, dentro da margem. Por sua vez, a estimativa de expansão do PIB para este ano, diversas vezes revista para baixo, acaba de descer de 2,5% para 1,5%, conforme o relatório Perspectivas para a Economia Mundial, divulgado duas semanas atrás. Veja-se que a Rússia deve crescer 3,7%; a Índia, 4,9%; e a China, 7,8% — só para citar exemplos do Brics. Mesmo com o mundo em crise, a média do crescimento global será de 3,3%, mais do que o dobro da brasileira. 

O diferencial é que, em maior ou menor grau, as turbulências externas valem para todos, embora os mais fortes sempre sobressaiam diante dos demais. Nesse contexto, impõe-se reforçar os instrumentos de controle externo, mas também criar condições internas mais favoráveis. Como reduzir juros. Também é fato que outro equilíbrio difícil desafia o país nesta hora: crescer sem descuidar-se da austeridade. 

Conter gastos e investir ao mesmo tempo pode parecer contraditório, mas não há outra saída. A mágica é melhorar a qualidade do investimento e suprir as lacunas na infraestrutura e, sobretudo, na educação. Tampouco se pode abandonar os programas sociais que resgataram milhões da miséria e fortaleceram o mercado consumidor. Renúncias fiscais são outra corda bamba na qual o governo tenta se equilibrar, até que venha uma reforma tributária ampla e justa. Só não se pode é fingir ser a Selic a solução para tudo, apenas com o intuito de fazer girar no mercado a roleta da especulação.