Selic menor mal chega aos brasileiros

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Autor(es): » DECO BANCILLON
Correio Braziliense – 11/10/2012
 

 

Efeitos da queda da taxa básica são pequenos no dia a dia das pessoas. Um dos motivos para isso é a falta de garantia do pagamento

Entre a redução de juros pelo Banco Central (BC) e o impacto dessa queda para o consumidor há um vão. Na ponta do lápis, a queda da Selic em 0,25 ponto percentual surte pequeno efeito na vida das famílias (veja qua­dro). Segundo simulações da Associação Nacional de Executi­vos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média das operações de crédito deve encolher 0,45 ponto per­centual nas operações com até 12 parcelas: um recuo de 101,64% para 101,18% no ano. Apenas como exemplo, uma ge­ladeira financiada em um ano ficaria R$ 2,26 mais barata com o corte da taxa básica. Por mês, isso corresponde a um desconto de apenas R$ 0,19 na prestação.

Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, uma das razões desse descompasso entre a queda da Selic e um menor custo para o consumidor é a falta de garantias ao banco de que o cliente irá pa­gar corretamente pelo emprésti­mo feito. “Em geral, a capacidade jurídica de executar garantias no Brasil é baixa. Tome como exem­plo as linhas que possibilitam a retomada do bem, como os fi­nanciamento automotivo, imo­biliário e consignado. Todos eles têm juros mais baixos que outras linhas convencionais”, cita.

Numa projeção feita pela Anefac, com a nova redução da Selic, ontem, o custo médio do Crédito Direto ao Consumidor (CDC) para a aquisição de veí­culo ficará em média em 1,68%. Um ano atrás, antes do ciclo de cortes do juros feito pelo Banco Central, essa taxa era de 2,37%. A queda também teve impacto na poupança, que passará a ren­der 0,4134%, mais a taxa refe­rencial ao mês. No ano, esse re­torno será de 5,0751%.(Colaborou Victor Martins)

Reflexos lentos

Diante da inadimplência persistente e do cenário inter­nacional complexo, os efeitos da redução das taxas de juros demoram mais para chegar ao bolso dos empresários. Os re­flexos sobre a economia tam­bém ficaram mais lentos. Mes­mo com a redução de 5,25 pon­tos percentuais da Selic desde agosto do ano passado, o custo do crédito caiu só depois que o Planalto obrigou os bancos pú­blicos a cortar as taxas. Ainda assim, a economia não reagiu: a previsão do Banco Central é de que o país crescerá apenas 1,6% neste ano.

O alto endividamento das fa­mílias, devido aos empréstimos contratados entre 2008 e 2009, aumentou a inadimplência, hoje em 7,9% dos contratos. Com tan­tas dívidas em atraso, os bancos se tornaram mais seletivos. Sem crédito, segundo especialistas, a atividade econômica perde for­ça. Por isso, a ordem do governo é expandir as operações e derru­bar juros e tarifas bancárias. A determinação do Palácio do Pla­nalto, no entanto, esbarra no desgaste do consumo. (VM)