O voo de US$ 4,5 bilhões

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Depois de 12 anos de indefinições, que atravessaram governos de três presidentes, o Brasil anuncia a compra de 36 Gripens NG, da Suécia

A novela da compra dos supersônicos para defesa do espaço aéreo chegou ao fim: 36 Gripens serão adquiridos por US$ 4,5 bilhões

Autor(es): GRASIELLE CASTRO

Depois de 12 anos do início da seleção de empresas para renovação da frota de caças destinada à proteção do espaço aéreo brasileiro, o governo anunciou que comprará 36 Gripens NG da empresa sueca Saab por US$ 4,5 bilhões. Com isso, começam as negociações, que podem levar até um ano, para fechar o contrato comercial e de suporte logístico do Projeto F-X2, da Força Aérea Brasileira. De acordo com o ministro da Defesa, Celso Amorim, pelo cronograma, só 48 meses depois da assinatura, começam a chegar os primeiros aviões. “Em breve, teremos aviões à altura da necessidade da defesa do país, mas isso ainda levará um tempo na discussão do contrato”, pontuou.

Como o Correio antecipou há 10 dias, o Executivo não previu recursos no Orçamento da União do próximo ano para a compra da nova frota aérea. Segundo Amorim, as aquisições não impactam na peça orçamentária de 2014. “O fato é que o contrato em si é demorado. Leva de 10 a 12 meses. Se fecharmos antes, melhor. Não terá nenhuma implicação no Orçamento, esse ano já acabou, nem do ano que vem”, pontuou. O pagamento será feito em um cronograma que se estende até 2023. A intenção do comandante da FAB, tenente-brigadeiro Juniti Saito, no entanto, é que o Brasil pechinche ao máximo para tentar reduzir o valor já que o contrato ainda não foi fechado. A expectativa dele é de que o país receba 12 caças por ano.

Contrapartidas
Além dos supersônicos, o contrato deverá abranger contrapartidas comerciais, treinamento de pilotos e mecânicos, aquisição de simulares de voo e a logística inicial. Ao fim do processo, o país será dono da tecnologia usada na composição do avião. Esse foi um dos pré-requisitos levados em conta na escolha da empresa vencedora. “Sabemos que a transferência de tecnologia é algo demorado, implica garantias contratuais de que aquilo que foi ofertado efetivamente ocorrerá”, ressalta.

Amorim explica que, mesmo que algumas partes da aeronave sejam produzidas por países, como os Estados Unidos, a base do tecnologia será brasileira. Cerca de 80% da aeronave será construída em solo nacional e em parceria com a Embraer. “Não há pretensão de fabricar todas as peças no Brasil”, disse. O importante, segundo ele, é que o conhecimento seja transferido principalmente na abertura do código-fonte de armas, que permite a inclusão de arsenal brasileiro, e que o país seja capaz de passar para as próximas gerações.

De acordo com o ministro, também foram analisados a performance e o custo. A Saab concorria com a empresa francesa Dassault, fabricante do Rafale F3, e a americana Boeing, com o F/A-18E Super Hornet. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a anunciar em 2009 que o país compraria o Rafale, mas recuou por não ter ouvido a FAB. Embora o governo tenha escolhido o avião menos testado, o Ministério da Defesa argumenta que outros países, como a Hungria e a África do Sul, operam com o Gripen. O comandante da FAB argumenta que existe um protótipo do NG voando. “É um protótipo conceitual, que já tem mais de 300 voos”, completa.

Essa aeronave de guerra será responsável pela proteção do espaço aéreo brasileiro pelos próximos 30 anos, capaz de
detectar e interceptar, além de portar armamento. Enquanto os novos aviões não chegam, a defesa fica a cargo dos caças F5-M. Em nota, a pasta acrescentou que existe a possibilidade de a Saab oferecer para a FAB caças Gripen, modelo CD, para reforço. No dia 31, os 12 caças Mirage 2000 que hoje fazem esse trabalho serão aposentados.

Especificações

Comprimento: 15,2m
Envergadura da asa (incluindo os lançadores): 8,6m
Altura geral: 4,5m
Velocidade máxima: 2.125km/h
Carga útil: 7,2t
Combustível máximo: 7t
Alcance máximo: mais de 4.000km
Distância de pouso: menos de 500m
Custo por hora de voo: menos de US$ 400

Memória
As idas e vindas

O Brasil definiu a necessidade de compra das aeronaves de defesa em 2000, com o Projeto F-X, após a conclusão de estudos iniciados em 1992. Em 2001, entretanto, já com nome de Projeto F-X2, o Comando da Aeronáutica abriu a seleção para compra de caças. No fim do ano, foram escolhidas as aeronaves Gripen, F-16, Mig-29, Mirage 2000 e Sukoi 30. Dois anos depois, no primeiro ano do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o processo, iniciado na gestão de Fernando Henrique Cardoso, foi suspenso e retomado no fim do ano. Em 2008, a FAB instituiu uma comissão especial para conduzir o projeto, que selecionou três aeronaves para prosseguir o processo, uma da Boing, outra da Dassault e uma da Saab. No ano seguinte, as empresas encaminharam as propostas e, em janeiro de 2010, o Comando da Aeronáutica concluiu o relatório do projeto. Só ontem, porém, o governo brasileiro anunciou o fim do certame.