Aprovado Manifesto pela Revisão da Dívida dos Estados e Municípios

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Com informações: Ascom/OAB e ASCOM/Fonacate

 

O ato público promovido pelo Conselho Federal da OAB e por entidades representativas da sociedade civil aconteceu no último dia 15 de maio. Uma das importantes questões importantes tratadas durante o evento foi o ‘Manifesto pela Revisão da Dívida dos Estados e Municípios com a União’ assinado por 120 entidades. O texto do documento questiona os termos exorbitantes do financiamento que apontam os exagerados encargos financeiros aplicados aos contratos e alertam para necessidade de transparência no processo de endividamento dos Estados e Municípios.

O ato foi conduzido pelo presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado, e a leitura do manifesto foi realizada pelo vice-presidente nacional da entidade, Claudio Lamachia. O manifesto reivindica a imediata revisão dessa dívida, que hoje atinge cerca de R$ 400 bilhões, por ela ter “alcançado nível insustentável para os entes federados, impondo grave sacrifício social à população, que se vê subtraída em seus direitos fundamentais”.

O documento reivindica ainda o saneamento da situação que tem levado Estados e Municípios a contraírem empréstimos externos para pagar encargos à União e, ainda, a troca do indexador que corrige essas dívidas, hoje IGP-DI mais juros de 6% ao ano, pelo IPCA e sem cobrança de juros.

Durante os pronunciamentos no ato público, dirigentes de diversas entidades e parlamentares federais e estaduais criticaram duramente os critérios e normas da União que elevaram a dívida de Estados e Municípios de R$ 121 bilhões em 1999 para R$ 396 bilhões em 2011, no cômputo nacional. Nesse período, portanto, registraram um exorbitante aumento de encargos contratuais de 589%, diante de uma inflação oficial acumulada de 133% – ou seja, uma diferença de 456%, por conta dos escorchantes juros reais pagos no período.

 

Segue abaixo a íntegra do ‘Manifesto pela Revisão da Dívida dos Estados e Municípios:

As entidades signatárias e demais participantes do Ato Público pela “Revisão da Dívida de Estados e Municípios com a União”, considerando que o Brasil é organizado politicamente como uma federação e que todas as esferas políticas – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – devem respeitar mutuamente os limites de autonomia de cada ente federado para um harmonioso funcionamento:

• Defendem a necessidade de imediata revisão da dívida de Estados e Municípios com a União, que alcançou nível insustentável para os entes federados, impondo grave sacrifício social à população, que se vê subtraída em seus direitos fundamentais. Faltam recursos para investimentos em áreas prioritárias como saúde, educação, segurança, infraestrutura; para o pagamento dos precatórios judiciais e para o atendimento a tantos direitos humanos e sociais ainda negados a milhões de brasileiros;

• Questionam os termos exorbitantes dos refinanciamentos dessas dívidas, celebrados com base na Lei n° 9.496/97 (aplicada aos estados), Medida Provisória n° 2.192 (PROES) e Medida Provisória n° 2.185 (aplicada aos municípios). Essas normas legais tiveram sua gênese em acordos celebrados nos anos 90 pela União com o Fundo Monetário Internacional – FMI;

• Apontam os exagerados encargos financeiros aplicados aos contratos, com projeções bastante sombrias à sustentabilidade e ao equilíbrio das contas públicas, ameaçando o Pacto Federativo e a Democracia. De acordo com dados do Tesouro Nacional, ao final de 1999, a dívida dos Estados, refinanciada pela União, era de R$ 121 bilhões. De 1999 até 2011, os Estados pagaram R$ 165 bilhões, portanto, valor muito superior à dívida refinanciada. E, mesmo assim, a dívida atingiu o saldo devedor de R$ 369 bilhões ao final desse período. No período de 1999 a 2011, os contratos menos onerosos assinados pelos Estados – que estabeleciam remuneração nominal composta por atualização pelo IGP/DI acrescida de juros de 6% a.a. – tiveram encargos contratuais que atingiram 589% diante de uma inflação oficial acumulada de 133%. Esta exorbitante diferença de 456% corresponde ao total dos juros reais pagos pelos Estados à União;

• Alertam para a necessidade de transparência no processo de endividamento dos Estados e Municípios mediante realização de auditoria com participação da sociedade, pois é a população quem suporta o peso do seu pagamento e assim tem o legítimo direito de conhecer o processo de geração dessas dívidas e os mecanismos do seu espantoso crescimento;

• Reivindicam o saneamento dessa injusta situação que tem levado Estados e Municípios ao absurdo de contraírem empréstimos externos – com Banco Mundial e bancos privados internacionais – para destinarem recursos ao pagamento de encargos financeiros com a União;

• Reivindicam, ainda, com base em levantamentos e estudos técnicos já realizados pela sociedade civil, que se faça a revisão inadiável desses contratos desde a sua origem, atendendo aos seguintes pilares:

1) recalcular, retroativamente à data da assinatura dos contratos, a remuneração que seria devida à União, limitada ao IPCA e sem a cobrança de juros;

2) aplicar sobre os saldos devedores remanescentes o IPCA e sem a cobrança de juros;

3) limitar a 6% o comprometimento da receita líquida real para o pagamento das prestações futuras.