Antecipação da campanha tem riscos para o governo

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Valor Econômico – 01/04/2013

 

 

As recentes demissões na direção da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) expõem à opinião pública um dos aspectos mais perversos da antecipação da campanha sucessória: a contaminação do governo pela disputa eleitoral. A lógica por trás da intervenção na INB parece eminentemente de natureza política. Tratou-se de substituir técnicos ligados ao PSB por técnicos ligados ao PT. São ralas as explicações de caráter administrativo.

O PSB, como se sabe, é o partido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, hoje virtual candidato à sucessão da presidente Dilma Rousseff nas próximas eleições. Se dependesse apenas do PT, o expurgo do PSB seria maior e atingiria ministros que o partido mantém no governo federal.

A disputa pelo poder é permanente na política, mas deve se dar na esfera de seus agentes próprios, os partidos, e na cena adequada para o embate democrático, o Congresso Nacional. O tempo de campanha é outro e permite até certa irresponsabilidade verbal dos candidatos, compreendidas no contexto da disputa pela sociedade.

É diferente quando o governo se envolve na disputa com tanta antecedência – o Estado é contaminado e suas decisões passam a correr o sério risco de serem subordinadas à lógica eleitoral.

A antecipação, até agora, teve mais consequências negativas do que positivas para o governo da presidente Dilma. Salta aos olhos, por exemplo, o recuo da presidente na “faxina ética” feita na Esplanada dos Ministérios, ano passado.

Em troca de preciosos minutos de tempo de rádio e televisão no horário gratuito eleitoral, a presidente voltou a cortejar o PR, antigo locatário do Ministério dos Transportes e o primeiro a ser banido na “faxina”. Na quinta-feira a presidente sancionou o projeto que cria mais um ministério, o da Micro e Pequena Empresa, inicialmente reservado para o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. O mesmo princípio se aplica à acomodação do PMDB por meio da entrega de uma fatia de poder mais generosa ao partido, como é o caso da aviação civil – os pemedebistas estão no comando das concessões dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), além da construção de duas centenas de aeroportos regionais, valorizadas “moedas políticas” das quais a sigla tanto se ressentia.

Esses são apenas alguns exemplos da repercussão que a antecipação da campanha tem sobre a administração, a 18 meses das eleições presidenciais de outubro de 2014. Há muitos outros, como a tensão prolongada que se estabelece sobre o tecido social. O desgaste nas relações entre Dilma e o governador de Pernambuco se dá a céu aberto. A própria presidente fica sujeita a interpretações que não desejaria sobre suas falas com viés eleitoreiro.

Só a excitação provocada pelo aquecimento da campanha e o bom desempenho nas pesquisas de opinião explicam a iniciativa da presidente de desencavar antigo discurso da esquerda petista. Se Dilma fala num palanque que o combate à inflação com medidas de desaquecimento econômico é um receituário superado “que quer matar o doente”, o discurso provavelmente seria compreendido como fala de político à caça de votos.

Bem diferente é dizer a mesma coisa não como candidata, mas como presidente, sobretudo nos bastidores de um fórum internacional. Dilma tocou num tema sensível e deu no que deu: apreensão nos mercados, o suficiente para forçá-la a emitir nota dizendo que suas declarações foram objeto de “manipulação inadmissível”. Pode ser. É o risco que corre quem está no palanque com tanta antecedência.

Diz-se que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi levado a antecipar o lançamento do nome da presidente devido às dúvidas sobre sua candidatura existentes nos mercados e no PT e aos questionamentos do governo Dilma pelos movimentos sociais. A candidatura do governador Eduardo Campos seria apenas um pretexto. Mas o fato é que a antecipação de campanhas faz parte do modus operandi de Lula. Foi assim com a candidatura de Dilma. Basta ver o número de vezes que o ex-presidente foi multado pela Justiça Eleitoral por fazer campanha fora de época.

A antecipação do calendário eleitoral não é uma coisa inofensiva, sobretudo quando contamina o executivo. Esse é o risco que corre o governo Dilma.