
No dia 1º de outubro de 2025, no período da tarde, o auditório da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) foi palco de uma cerimônia marcada por emoção e reconhecimento. O IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades passou a se chamar Prêmio Roseli Faria, em homenagem à analista de Planejamento e Orçamento que faleceu em 11 de setembro de 2025. Roseli dedicou sua vida ao serviço público, à luta por igualdade racial e à construção de um Estado mais justo e inclusivo, transformando o olhar sobre o orçamento público e inspirando gerações de servidores.
Formada em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), Roseli ingressou na carreira de Analista de Planejamento e Orçamento (APO) em 2012. Ao longo de sua trajetória, atuou em diversos ministérios, incluindo Planejamento, Orçamento e Gestão; Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Justiça e Segurança Pública; e Gestão e Inovação em Serviços Públicos. Em cada um desses espaços, destacou-se pela excelência técnica e pelo compromisso com a inclusão social, a equidade de gênero e a luta antirracista. Na Assecor, desempenhou papeis de liderança fundamentais, sendo presidenta no biênio 2020-2021 e vice-presidenta nos biênios 2021-2022 e 2023-2024. Durante sua gestão, esteve à frente da resistência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32, articulando a criação da Articulação Nacional das Carreiras Públicas para o Desenvolvimento Sustentável (ARCA), um espaço de mobilização em defesa de um modelo de Estado soberano e sustentável.
A primeira homenagem da cerimônia foi feita pela analista de Planejamento Clara Marinho, amiga e colega de carreira, que se emocionou ao lembrar da convivência com “Rose”, como a chamava carinhosamente. “A Rose se transformou em uma enciclopédia para nós”, disse, mencionando o apelido afetuoso que ela ganhou entre os colegas: “wikipreta”. Clara destacou a capacidade de Roseli de concretizar ações coletivas e de agir em atenção às necessidades da população, sempre buscando concretizar os princípios da Constituição Federal. Em um dos momentos mais marcantes de seu discurso, Clara concluiu:
“Rose vive em cada uma dessas iniciativas que eu enumerei e em tantas outras que, possivelmente, eu esqueci. E é por isso, em memória de sua criatividade, de sua capacidade de concretizar a ação coletiva, identificando e conectando talentos. Em memória de sua capacidade de agir em atenção às necessidades da população, visando concretizar a Constituição Federal, é que esse prêmio tem a cara dela e, a partir de hoje, o nome dela. Que seu encantamento pela vida, sua capacidade de transformar a si mesma, as pessoas e o ambiente ao seu redor possam inspirar novas gerações de pessoas pensadoras e implementadoras de políticas públicas.”

O companheiro de Roseli, Maurício Baruchi, também prestou uma homenagem emocionada. Ele reforçou a retidão e o compromisso ético de Roseli e disse aos presentes que, ao se depararem com questões éticas no serviço público, devem se perguntar: “O que Roseli faria?” Segundo Maurício, a resposta está no fato de que Roseli nunca esqueceu de onde veio, do propósito que encontrou no serviço público e de como sempre buscou transformar vidas por meio de suas ações. Ele encerrou seu discurso com palavras de profundo afeto:
“Eu vou encerrar falando para a Roseli Faria que, dentro dos seus olhos de criança, você viu um mundo melhor, esse mundo era possível e ficou gravado ali no fundo dos seus olhos. Quando eu te vi, dentro, no fundo dos teus olhos e da tua alma, eu vi o meu mundo, que eu sinto meu mundo agora, e eu encontro esse meu mundo em você, que é o meu propósito. Que eu te amo, Roseli Faria, pra sempre. Obrigado pela oportunidade, por ter encontrado você e ter vivido tudo o que vivi.”

Roseli Faria deixa um legado indelével no serviço público brasileiro. Sua atuação incansável pela implementação de políticas públicas que garantem direitos e combatem desigualdades, especialmente no que tange à inclusão de pessoas negras no serviço público, transformou a maneira como o orçamento público é concebido e executado. Sua vida e trajetória demonstram que é possível aliar sustentabilidade fiscal à garantia de direitos, sem abrir mão da justiça social.
O Prêmio Roseli Faria, agora instituído, é um reconhecimento póstumo à sua dedicação e ao impacto de sua trajetória, inspirando profissionais e gestores públicos a trabalhar com ética, compromisso e paixão pela construção de um Brasil mais justo e igualitário.