
Acelerou-se rapidamente o conflito entre o atual governo dos Estados Unidos e o Brasil. Em questão de poucos dias, já não está tão clara a disposição do país do norte em dialogar. Ao que parece, acumulam-se indícios do contrário: reunião de nível ministerial que deveria tratar de questões comerciais foi cancelada; chancelaria brasileira forçada a convocar a diplomacia do país do norte diversas vezes, que claramente força um rompimento.
Internamente, as reações variam de um medo injustificável aos arroubos irrealistas. Aqueles que veem o país que nos ataca como “um cliente” sugerem que o Brasil deva paparicá-lo e atender seus interesses de forma irrestrita, dando assim uma prova incontestável da sabujice vira-lata que infelizmente virou norma para muitos setores da sociedade. No outro extremo, um bem-vindo espírito de força e orgulho tem ganhado expressão em atos ora superficiais (como postagens em redes sociais e declarações) ora inexequíveis (como troca brusca do dólar por outras moedas no comércio internacional do Brasil).
Felizmente, surgem ações bem pensadas que merecem todo nosso apoio. Uma delas é a iniciativa da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), em parceria com o SERPRO e a Universidade Federal do Ceará, para criar um aplicativo de troca de mensagens que seja de uso restrito e exclusivo de membros do Estado brasileiro. Por incrível que pareça, até esta data, parte das comunicações digitais entre agentes de Estado se dá por meio do WhatsApp, o famoso aplicativo que pertence à famosa Meta (dona do Facebook e do Instagram), cujo fundador é o celebrado Mark Zuckerberg, fiel aliado do atual presidente do país do norte.
Quem vem acompanhando o noticiário internacional já percebeu que as chamadas Big Techs daquele país estão em rápida aproximação com os interesses militares do país hegemônico. Claro, estão atrás de fatias daquele orçamento anual de quase US$ 1 trilhão, e não pouparão esforços para conseguir seus interesses. Espionar as comunicações de um país tradicionalmente pacífico e amigo, mas que foi atirado em um conflito sem saída aparente, é fichinha para eles.
Portanto, usar o quanto antes um aplicativo de troca de mensagens que tenha as proteções digitais necessárias para impedir que o país agressor tenha acesso às nossas informações mais sensíveis é muito importante. Mais do que isso, é uma questão emergencial. Assim se defende soberania nestes novos tempos. Portanto, todo apoio ao Estado brasileiro em seu esforço para retomar a privacidade das comunicações entre presidente, ministros, secretários e demais servidores públicos.
Não se trata de uma questão apenas tecnológica, pois no Brasil existem profissionais de qualificação suficiente para programar as defesas digitais necessárias para o país enquanto durar essa crise. Trata-se de uma questão política e de organização do Estado. Quanto mais essa crise se aprofundar, mais visível será a importância crucial do Estado organizador e planejada para efetivar uma defesa concreta e séria do interesse nacional.