Economia fraca abre espaço para acelerar corte da Selic
O Banco Central reconheceu no comunicado divulgado após a reunião do Copom de ontem, quando a taxa Selic foi cortada de 14% para 13,75%, que a atividade econômica está se recuperando mais lentamente do que esperava. Isso levou os economistas a passarem a esperar por uma possível aceleração no ritmo de corte de juros a partir de janeiro. Para esses especialistas, foram as incertezas do cenário internacional, após a vitória de Donald Trump na eleição americana, que impediram uma redução mais acentuada na taxa Selic no encontro que terminou ontem. O Copom destacou no comunicado que o ritmo de desinflação nas suas projeções pode se intensificar caso a recuperação da atividade econômica seja mais demorada e gradual que a antecipada. Essa intensificação do processo de desinflação, segundo o BC, depende de ambiente externo adequado. Para Carlos Kawall, economistachefe do Banco Safra, o BC “deixou a porta ainda mais aberta” para acelerar o corte nos juros a partir de janeiro. Segundo ele, o comunicado trouxe fatores adicionais que apontam para uma evolução favorável da inflação em direção à meta. Entre eles, cita o reconhecimento de uma atividade mais fraca, que aponta para uma recuperação da economia mais demorada e gradual que a antecipada. Lembra que o BC reconheceu que o processo de aprovação e implementação das reformas fiscais pode ocorrer de forma mais célere. “Acho que em janeiro vamos estar com um nível de dólar parecido com o atual, e com atividade e inflação mais baixas”, afirma. Para Tatiana Pinheiro, economista do Santander, o comunicado do Copom não sugere necessariamente uma aceleração do corte de juros já em janeiro, mas o quadro de fraca atividade deve abrir espaço para o BC fazer isso. “Esperávamos um corte de 0,5 ponto nesta reunião. Agora, achamos que ele vai acelerar para 0,5 ponto percentual em janeiro por conta da realidade econômica”, diz. O banco mantém a projeção para a Selic em 9,50% no fim de 2017. Ainda atento à sua reputação, o BC abriu caminho para acelerar o corte em janeiro, diz Zeina Latif, economistachefe da XP Investimentos. Para Zeina, diante da atividade ainda muito fraca, caberia ter discutido um corte de 0,5 ponto percentual já nesta reunião, ainda que o cenário internacional tenha lá seus desafios. “Não acho que seja uma questão de cenário externo, mas um BC ainda preocupado em construir reputação.” Daniel Weeks, economistachefe Garde Asset Management, afirma que o BC mostrou não ser “insensível” à atividade econômica, como alguns críticos apontavam, apenas mais conservador do que o mercado. Segundo Weeks, para que o cenário de um corte maior dos juros não se confirme, seria preciso que algo “muito pior” ocorresse lá fora, como mais uma rodada de depreciação cambial que levasse o dólar a um nível entre R$ 3,70 e R$ 3,80. “Isso poderia deixar o BC mais cauteloso, mas não é meu cenário base”, diz. Uma das poucas vozes dissonantes ouvidas pelo Valor foi a do estrategista Paulo Gomes, da Azimut Brasil Wealth Management, que espera que o BC mantenha o ritmo de corte de 0,25 ponto na Selic em janeiro. “Dado que o mandato do Banco Central é preservar o poder de compra da moeda, ou seja, combater a inflação e não gerar emprego, ele fez o que tinha que ser feito. Qualquer coisa diferente disso, o desviaria desse objetivo.” Para o estrategista, o mercado deverá seguir rachado para a reunião de janeiro, com parte apostando em uma queda de 0,5 ponto percentual e parte em 0,25 ponto, especialmente em razão do cenário recessivo.