BC conservador esfria convicção em corte maior da Selic

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A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de cortar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 14%, não chegou a ser uma grande surpresa, mas ainda assim provocou intensa movimentação no mercado financeiro ontem. Além de uma correção natural dos contratos futuros de juros, que consideravam cerca de 30% de probabilidade de o Copom ser mais ousado e reduzir a Selic em 0,5 ponto, o que provocou uma forte onda de ajustes foi o comunicado após a decisão, considerado muito mais conservador do que se esperava. E, com isso, no mínimo enfraqueceu a convicção de que o Banco Central vai acelerar o ritmo de alívio monetário na próxima reunião. As dúvidas provocaram um rebalanceamento nas apostas para o ciclo de alívio monetário, que até a decisão contemplavam quase majoritariamente chances de um corte de 0,5 ponto em novembro. Agora, os contratos de curto prazo passaram a mostrar 48% de chance de uma redução de 0,50 ponto, contra 52% para 0,25 ponto. O que chamou a atenção no comunicado foi a demonstração de preocupação do Copom com dois elementos considerados necessários para a aceleração do ritmo de corte de juros: a inflação de serviços, que parou de cair, e o ajuste fiscal. Outro ponto visto como conservador foi a afirmação de que a convergência da inflação para a meta é compatível com uma política monetária “gradual e moderada”. E, por fim, a indicação do BC de que está menos preocupado com os dados recentes mostrando um quadro pior para a atividade, classificadas como “oscilações que normalmente ocorrem no atual estágio do ciclo econômico”. Esse tom cauteloso levou alguns agentes a colocar em dúvida ou mesmo a revisar suas projeções para a política monetária. É o caso do Citi. O banco esperava duas quedas de 0,5 ponto da Selic, uma em outubro e outra em novembro, e agora prevê um corte de 0,25 ponto no mês que vem. “O BC fez um contraponto a tudo que imaginamos que era ‘dovish’ [favorável a um corte maior]. A atividade está desacelerando, mas o BC acha que é temporário, ele destacou uma pausa da desinflação de serviços e também vê o avanço do ajuste fiscal ainda lento”, diz Marcelo Kfoury, superintendente do Departamento Econômico do Citi Brasil. Kfoury observa que houve uma piora das expectativas de inflação para 2018, tanto no cenário de referência como no de mercado, o que sugere que o BC pode estar mais preocupado com a sustentabilidade do processo de desinflação e da manutenção da inflação em 4,5% no longo prazo. “Apesar do hiato do produto estar abrindo, parece que o BC está dando mais peso ao desvio da inflação e aparentemente ele não quer que a convergência para a meta seja muito devagar”, diz. Na mesma linha, o economista­chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, que esperava que o Copom iniciasse o ciclo de alívio monetário com um corte de 0,50 ponto, viu no comunicado sinais de que o cenário­base agora é de um novo corte de 0,25 ponto. “A cautela que ele colocou no comunicado, muito maior do que no relatório de inflação, me surpreendeu”, afirma. “Para acelerar, o BC vai querer ver uma melhora adicional expressiva.